segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Duplo Amor

O tempo frio arrasta-me  para o mundo da sétima arte. Entro no mundo dos filmes talvez buscando acrescentar sentido à minha realidade de todos os dias. E conforto também. É terapia sim, mas tem riscos. E às vezes pode correr mal.

Pode ser na escuridão de uma sala de cinema ou no aconchego do lar, fazendo recurso aos inevitáveis dvds. E ontem foi em casa, pela noite dentro, que descobri um filme muito especial, um pequeno tesouro. Falo de Duplo Amor, do cineasta americano James Gray. 
Dele já conhecia Nós Controlamos a Noite, mas este Duplo Amor entranhou-se. Em ambos, a paisagem invernosa e cinzenta, bela e cheia de espessura. E também a o microcosmos dos judeus oriundos de Odessa.

A atmosfera deste filme parece saída das Noites Brancas de Dostoievski. Leonard/Joaquin Phoenix é um desses seres desajustados, não em São Petersburgo, mas sim num bairro de Nova Iorque. Trabalha com o pai no pequeno negócio deste, uma lavandaria, mas o seu ser exprime-se através da fotografia quase só feita de paisagens e nas pequenas brincadeiras. É um sonhador presa fácil da depressão e do suicídio (a primeira sequência é a de uma malograda tentativa).

James Gray filma o estado amoroso com uma singularidade sem paralelo no mundo cinema de hoje. Essa forma admirável de filmar é mais devedora da literatura do que do cinema.

Na história há duas mulheres: Michelle/Gwyneth Paltrow, que habita no mesmo prédio de Leonard, e
Sandra/Vinessa Shaw, filha de um comerciante judeu do bairro.
Michelle, magnífica interpretação de Gwyneth Paltrow, é fogosa e sedutora, mas também frágil; inconstante, com problemas emocionais e dependência de drogas.

Sandra parece querer resgatar Leonard da solidão, ama nele a diferença. Ela é apaziguamento onde Michelle é risco e imprevisibilidade.

Leonard vai desenvolver por Michelle um amor obsessivo, por ela parece disposto a tudo, mas mantém sempre os  laços com Sandra. Duplo Amor espelha a complexidade dos sentimentos, e Leonard não é um ser vulgar.

Na admirável sequência final, Leonard prepara-se para consumar a fuga com Michelle, rumo a São Francisco. Porém, o plano desta a atravessar o estreito e mal iluminado corredor do prédio em direcção a Leonard diz-nos que não; que isso não vai acontecer. E o resto? Bem, o resto poderia ser trágico...

Tudo neste filme de James Gray é de uma beleza contida. A luz, a cor e tons  cinzentos predominantes.

2 comentários:

  1. Não sei o que será mais belo: o filme ou as palavras que o descrevem a partir dos olhos que o veem. Obrigada Luís. Onde encontro esse filme?? Beijo

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  2. Olá Cristina, este filme deve ter à volta de uns cinco anos, talvez encontre na FNAC ou então na Amazon.
    Obrigado e bjs

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