O
tempo frio arrasta-me para o mundo da sétima arte. Entro no
mundo dos filmes talvez buscando acrescentar sentido à minha
realidade de todos os dias. E conforto também. É terapia sim, mas
tem riscos. E às vezes pode correr mal.
Pode
ser na escuridão de uma sala de cinema ou no aconchego do lar,
fazendo recurso aos inevitáveis dvds. E ontem foi em casa, pela
noite dentro, que descobri um filme muito especial, um pequeno
tesouro. Falo de Duplo Amor, do cineasta americano James
Gray.
Dele já conhecia Nós Controlamos a Noite, mas
este Duplo Amor entranhou-se. Em ambos, a paisagem invernosa e
cinzenta, bela e cheia de espessura. E também a o microcosmos dos
judeus oriundos de Odessa.
A
atmosfera deste filme parece saída das Noites Brancas de
Dostoievski. Leonard/Joaquin Phoenix é um desses seres desajustados,
não em São Petersburgo, mas sim num bairro de Nova Iorque. Trabalha
com o pai no pequeno negócio deste, uma lavandaria, mas o seu ser
exprime-se através da fotografia quase só feita de paisagens e nas
pequenas brincadeiras. É um sonhador presa fácil da depressão e
do suicídio (a primeira sequência é a de uma malograda tentativa).
James
Gray filma o estado amoroso com uma singularidade sem paralelo no
mundo cinema de hoje. Essa forma admirável de filmar é mais devedora da literatura do que do cinema.
Na
história há duas mulheres: Michelle/Gwyneth Paltrow, que habita no
mesmo prédio de Leonard, e
Michelle, magnífica interpretação de Gwyneth Paltrow, é fogosa e
sedutora, mas também frágil; inconstante, com problemas emocionais
e dependência de drogas.
Sandra
parece querer resgatar Leonard da solidão, ama nele a diferença.
Ela é apaziguamento onde Michelle é risco e imprevisibilidade.
Leonard
vai desenvolver por Michelle um amor obsessivo, por ela parece
disposto a tudo, mas mantém sempre os laços com Sandra. Duplo
Amor
espelha a complexidade dos sentimentos, e Leonard não é um ser
vulgar.
Na
admirável sequência final, Leonard prepara-se para consumar a
fuga com Michelle, rumo a São Francisco. Porém, o plano desta a atravessar o estreito e mal iluminado corredor do prédio em
direcção a Leonard diz-nos que não; que isso não vai acontecer.
E o resto? Bem, o resto poderia ser trágico...
Tudo
neste filme de James Gray é de uma beleza contida. A luz, a cor e tons cinzentos predominantes.
Não sei o que será mais belo: o filme ou as palavras que o descrevem a partir dos olhos que o veem. Obrigada Luís. Onde encontro esse filme?? Beijo
ResponderExcluirOlá Cristina, este filme deve ter à volta de uns cinco anos, talvez encontre na FNAC ou então na Amazon.
ResponderExcluirObrigado e bjs