quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Expropriação da cidadania

Estimulante artigo do escritor alemão Hans Magnus Enzensberger, no El Pais, sobre o processo de expropriação política de que estão a ser alvo os cidadãos da União Europeia. Da ladainha da culpa que é a nossa, por termos vivido acima das nossas possibilidades, até ao mantra de que não há alternativa à austeridade ministrada por comités de especialistas acima de qualquer escrutínio.

Destaco alguns excertos:

 Evidentemente, son los menos quienes reparan en que los países europeos, desde hace bastante tiempo, ya no son regidos por instituciones legitimadas democráticamente, sino por una serie de abreviaturas que las han suplantado. Sobre la dirección a tomar deciden el FEEF, el MEDE, el BCE, la ABA o el FMI.

Parece fantasmal con qué tranquilidad los habitantes de nuestro pequeño continente han aceptado su expropiación política. Quizá eso se deba a que estamos ante una novedad histórica. En contraste con las revoluciones, golpes de Estado y asonadas militares en las que es rica la historia europea, ahora las cosas suceden sin ruido ni violencia. En eso estriba la originalidad de este asalto al poder. ¡Ni marchas con antorchas, ni desfiles, ni barricadas, ni tanques! Todo se desarrolla pacíficamente en la trastienda.

Estos miembros se autodesignan, igual que en el antiguo régimen colonial, como gobernadores y, al igual que los directores, no tienen que rendir cuenta alguna frente a la opinión pública. Al contrario, están expresamente obligados a mantener el secreto. Esto recuerda a la omertà, que forma parte del código de honor de la mafia. Nuestros padrinos se sustraen a cualquier control judicial o legal. Gozan de un privilegio que ni siquiera está al alcance de un jefe de la Camorra: la absoluta inmunidad frente al Derecho Penal. (Eso es lo que se dispone en los artículos 32 a 35 del Tratado del MEDE).

Mefistófeles e a inflação.

Fui dar com este artigo do (famoso) colunista do Financial Times, Wolfgam Munchau, que contém uma curiosa citação do governador do Bundesbank, Jens Weidmann. Curiosa porque nos remete para o Fausto de Goethe.

Afinal, o medo da inflação não está apenas enraizado na experiência histórica alemã dos trágicos anos trinta. Também a grande literatura faz dele eco. E, assim, Weidmann recorda o diálogo de Mefistófeles com o imperador. E o remédio para os males da bancarrota que assola o império: uma simples nota de papel com a assinatura do imperador; o império entregou-se à tarefa de as imprimir aos milhares e por uns tempos a vida continuou a ser como dantes. Para contentamento do povo.
Para Weidamen, o italiano Mario  Draghi é o Mefistófeles na corte do império do Euro.

MEFISTÓFELES:

A minha viagem deu p'ra notar

Que está em apuros o bom do imperador. Já o conheces. Quando o divertíamos,
Falsas riquezas na mão lhe metíamos,
Pensava que o mundo era seu.
(...)
FAUSTO:
Erro fatal.
(...)
MEFISTÓFELES:
(...)Gozou como podia,
E agora o reino caiu na anarquia:
Grandes, pequenos, todos guerreando,
Irmãos perseguindo-se, matando,
Atacam-se castelos e cidades,
Guildas e nobres em luta, inimizades,
Bispo, povo e cabido desavindos,
Olham-se e pronto!, já são inimigos.
'Té nas igrejas morres, e diante
Das porras corre risco o viajante.
Cada um mais ousado se mostrava;
Viver? Não, defender-se! - E a coisa andava.
JOHANN WOLFGANG GOETHE – in “FAUSTO”

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

House

                                Francesca Woodman

Auto-retrato...

                                          Francesca Woodman - Self-portrait at thirteen

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Conto dos contos

                                Imagem de um filme de animação de Yuri Norsteim.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Santiago Carrillo (1915-2012)

                                          Com Dolores Ibárruri, “La Pasionaria”.

                                          Foto do El Pais
Morreu Santiago Carrillo, antigo secretário-geral do Partido Comunista Espanhol (PCE) e figura maior do processo de transição democrática e de reconciliação nacional no país vizinho (1976-78).
Foram muitos os gestos de coragem de Carrilho, ao longo de uma vida que se confunde com grande parte da História de Espanha no século XX. Destaco a denúncia da invasão da Checoslováquia pelos exércitos do Pacto de Varsóvia, gesto que o levou a romper com o estalinismo.
Santiago Carrillo soube ler os sinais do tempo e estabelecer pontes com os inimigos de outrora (refiro-me aos tempos da guerra de 1936-39 que dilacerou Espanha). Morreu um grande democrata.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As Estações do Ano



Uma pérola esta animação do mestre russo, Yuri Norsteim.

15 de Setembro


As pessoas saíram à rua no dia 15 de Setembro. Um dia quente de Verão.
E manifestaram-se, cada uma à sua maneira. Para uns, era a voz, a cor e os slogans das faixas. Para outros, o silêncio. 
Caminhámos lado a lado ao longo de um percurso que nos levou, primeiro, até à Praça de Espanha, depois a São Bento.
Jovens e velhos, gente de todas condições.
Havia esperança. Socorro-me de Chico Buarque: foi a bonita a festa. Uma festa cívica.