terça-feira, 27 de setembro de 2011

A crença no especialista

Aqui há quem fustigue (nunca é demais, verdade se diga) a crença no poder do especialista.
Quando falham os políticos, logo surgem as vozes clamando pelos painéis de especialistas.
Fernando Pessoa não era presa de tais ilusões. Pela voz de Álvaro de Campos, lembrava-nos que "um especialista é um homem que sabe qualquer coisa de uma coisa e nada de todas as coisas."
Mas, lamentavelmente, estamos cada vez mais nas mãos destes especialistas. Apesar das atrocidades cometidas durante o século passado, em nome do progresso técnico personificado pelo poder do especialista, continuamos a persistir na crença. De pouco vale a História.

Eis um excerto do Krugman:

It’s not just the complete failure to foresee this crisis. Fancy international organizations have been persistently offering disastrous advice, counseling austerity and interest rate hikes just as the recovery, such as it is, stumbles. Politicians say dumb things about monetary policy — but so does the ECB.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Não somos a Grécia

Vamos de austeridade em austeridade até à vitória final, assim nos querem fazer crer o governo e demais analistas. A entrevista de Pedro Passos Coelho recolheu os louros do costume na comunicação social do país que inventou essa curiosa expressão do estado de graça.
Tudo estaria bem, não fosse a impenitente Grécia, esse país outrora pátria democracia, que teima em não aplicar o (benigno) programa das privatizações imposto por estrangeiros. Enfim, a Grécia tem costas largas, já o sabíamos, e quanto maiores as semelhanças, maior a necessidade de nos distinguirmos: eu sou pobre, mas não como tu. Assim, uma legião de distintas personalidades desfila pelos telejornais assegurando-nos de que não somos a Grécia.
A Madeira veio perturbar aquela melopeia, como a querer despertar-nos para uma outra realidade. Mas não: logo a mesma gente nos veio assegurar que não, não somos a Grécia.
O governo assegurou-nos, hoje, de que não tenciona extinguir câmaras municipais, contrariando o que está no memorando. Ainda assim, as mesmas vozes dizem-nos que só a Grécia não cumpre memorandos.
A nossa dívida privada é maior do que a dos gregos. Mas também isso deve ser culpa da Grécia. Já estamos a ver.