segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nowa Huta



















Foi em 2009.

Ir ao fundo

Afundai-vos um pouco! Experimentai ir ao fundo! A arte de ir ao fundo é praticada com sucesso variável por uns e por outros.
[...]
Mas há também um número surpreendente de pessoas prontas a aceitar tudo com o simples propósito de poderem continuar a viver.

Stig Dagerman, in Outono Alemão

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Go Get Some Rosemary



Vão-me Buscar Alecrim transporta-nos para a paisagem nova-iorquina dos anos oitenta.

O registo é indie mas não prisioneiro de um género ou estética. Pelo contrário, a câmara é livre. Nervosa e livre.

A história gira em torno de um pai e dos seus dois filhos. O pai, diríamos, vai de asneira em asneira até à vitória final. Negligente em muitas coisas, mas não no plano dos afectos.

O caos é indissociável de Lenny, o pai, algo que os realizadores, os irmãos Josh e Benny Safdie, souberam transmitir visceralmente. Através do ritmo da câmara.

O filme vai beber à infância dos realizadores, que o dedicam ao pai. A um pai certamente não muito diferente deste que percorre a tela.

Vão-me buscar alecrim é a um tempo inteligente e emotivo. E troca as voltas ao politicamente correcto. Deliciosamente.


PS. Um dos miúdos que contracenam no filme é filho do músico dos Sonic Youth, Lee Ranaldo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dominique Strauss-Kahn


Na velha e civilizada Europa, o caso Dominique Strauss-Kahn muito provavelmente teria morrido à nascença. Por entre refinadas teias jurídicas e o manto do preconceito social enraizado, quem de entre nós, europeus, daria crédito à queixa de uma modesta empregada de hotel, ainda para mais imigrante africana?

Mas não é assim nos Estados Unidos, país de génese democrática. Na América, até Marx o reconhecia, as relações nobiliárquicas não moldavam a paisagem social. E a democracia já era a forma de autogoverno de muitas das comunidades fixadas na Nova Inglaterra; mesmo antes da Revolução de 1776.

Talvez esse ethos democrático seja indissociável do comportamento (expedito) da justiça americana, não hesitando em agir mesmo perante figuras poderosas. Mesmo quando a queixosa é gente de humilde condição. É a justiça de um país em que os procuradores são eleitos e respondem perante o povo. Mas não é uma justiça popular, no sentido pejorativo que lhe costumamos dar.

Se a Revolução Francesa aboliu o privilégio de nascimento, já o mesmo não parece ter sucedido com a impunidade decorrente da condição social, que ainda parece fazer lei no Hexágono. Assim é quando estão em causa crimes sexuais, desvalorizados pela boa sociedade como pecadilhos sem importância. Um contraste com o puritanismo do outro lado do atlântico, que também ajuda a fazer luz sobre este caso.

Choque de culturas, do ethos democrático americano contra as reminiscências nobiliárquicas? Da Europa civilizada contra a bárbara América, que não hesita em algemar uma nobre figura da elite política francesa? Talvez algum exagero.

Quanto ao caso Dominique Strauss-Kahn, o melhor é esperar pelos próximos capítulos.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Memorando: troikas e elites

O país parece ter recebido com indiferença (ou talvez resignação) o Memorando da Troika.
O Memorando fixa medidas e prazos ao futuro governo saído de eleições, certamente democráticas mas também pífias.
Pelo meio, as elites clamam que “agora é que é!”, chegou pois o abençoado tempo das reformas. Na urgência do tempo presente, em que o dinheiro é preciso para pagar salários e pensões, alguns arautos do fetiche reforma dizem-nos que se não for desta, então adeus Pátria.
Vão-se os anéis do Estado, vulgo privatizações para alimentar a avidez do capitalismo de compadrio, suprimem-se municípios, talvez comarcas judiciais, e sabe-se lá mais o quê. Talvez a (ingénua) crença nos de fora que nos vão pôr nos eixos. A História, essa, é implacável e encarregar-se-á de desiludir os crédulos. E por falar em História, não estaremos nós a padecer de fadiga histórica?

PS. Nos sítios dos jornais, nem uma tradução para português do famigerado memorando.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Morte de Osama Bin Laden


Com a (inesperada) morte de Bin Laden, os Estados Unidos encerraram um capítulo da denominada Guerra ao Terrorismo. Mas receia-se que não o livro desta guerra assimétrica.
O futuro da Al-Qaeda está em suspenso, mas não é certo qual o destino de uma organização que se foi tornando cada vez mais desprovida de centro, com as suas ramificações locais, na Europa, Ásia e África, a actuarem como entidades na prática independentes. Enquanto fonte de inspiração, a Al-Qaeda era um símbolo que servia uma miríade de grupos com causas locais mas identificados com a ideologia pan-islamista veiculada pela Base.
Talvez o futuro da Al-Qaeda não seja determinado pelo teatro de guerra do Afeganistão, e extensões em território paquistanês, mas sim pela vaga de transformações sociais e políticas que assola como um espectro o mundo árabe. Se a Primavera Árabe florescer, então sim, será o fim da Al-Qaeda e seus émulos.