Muda-se
o ser, muda-se a confiança. E Chipre passou de modelo deste nosso
capitalismo globalizado, hábil actor na contenda pela atracção dos
capitais financeiros, a lavandaria da Europa. A lavandaria do dinheiro
sujo que vem do Leste, da Rússia de Putin.
Os arautos do capitalismo globalizado sem freios exaltavam
este mundo feito de livre-concorrência, única medida do universo.
Impunha-se saber atrair estes fluxos financeiros, pouco importando de
onde provinham, porque, afinal de contas, dinheiro é dinheiro e
escrúpulos não são para aqui chamados; a não ser enquanto expressão de atraso e imobilismo, afinal de contas, eles, os neoliberais, são amorais
por excelência.
Com
a crise, o dinheiro voltou a ser um bem escasso, tal é sentido com
particular agudeza na nossa Europa, onde a competição se tornou brutal. E o pequeno Chipre, a braços com bancos afogados em títulos da
dívida pública grega entretanto reestruturada, viu ser-lhe quebrada a
espinha dorsal do seu sistema financeiro e, já agora, da sua economia.
Não houve contemplações por parte da Europa, melhor dizendo, da Alemanha. Como o
predador que se abate sobre a presa já debilitada, dando-lhe o golpe de misericórdia.
É um sinal dado aos investidores: ter o dinheiro na periferia comporta
riscos avultados, depósitos e poupanças poderão ser alvo de um qualquer
confisco. Melhor é mesmo conservar o dinheiro no seio dessas economias
que formam o core business da União Europeia. Como a Alemanha. É a lei do
mais forte, é assim o darwinismo social das nações.
PS. Pelos vistos, só há dinheiro sujo e oligarcas russos em Chipre. Nada disso em Londres, onde se passeiam tranquilamente criaturas como Roman Abramovitch. Ou onde encontraram exílio figuras da estirpe de um Boris Berezovski. Moral da história, há oligarcas bons e oligarcas maus. Russos no Chipre é logo de desconfiar.
PS2.
Há paraísos ficais maus e paraísos fiscais bons. Luxemburgo e Letónia
são para acarinhar; Chipre é para abater. Mesmo que, em matéria de transparência, a pequena ilha do Mediterrâneo peça meças aos outros. E
até à Alemanha.
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