quinta-feira, 2 de junho de 2011

A crise e a esquerda da esquerda

Nada de novo na História. Em tempo de crise, é a direita quem colhe os frutos. A esquerda que advoga a mudança de paradigma vê o seu parco pecúlio de votos minguar.

Portugal não é excepção à regra, na vaga conservadora que assola a Europa. A esquerda não esteve no governo, não abraçou os dogmas que nos precipitaram para esta crise, mas acaba por ser a primeira vítima destes tempos de chumbo. Em que o medo se apossa dos espíritos.

O PC e o BE, já que falamos de esquerda, bem se esforçaram por impor na agenda política as coisas do memorando. Mas, fora a questão da Taxa Social Única, esse (meritório) esforço acabou submergido pelo circo mediático montado pelos estados-maiores dos dois partidos clientelares do sistema político, o PS e o PSD, muito ajudados pelo jornalismo (medíocre) de fretes e a lógica do espctáculo que impregna os media.

Seria importante que estes partidos da esquerda tivessem uma boa votação nas legislativas de 5 Junho próximo. Mas não é de crer que tal venha a suceder. Não é aqui o tempo de dissecar o BE nem o PC, mas não deixo, num registo mais ou menos feito de impressões, de fazer ressaltar duas ou três coisas sobre estas duas formações: o PC (melhor dizendo, a sua direcção) não está muito interessado em crescer eleitoralmente. Sente-se confortável com o seu fiel eleitorado que lhe garante a sempiterna votação na casa dos 7 ou dos 8%, mais um bom punhado de autarquias nas suas áreas de influência tradicional. Os seus dirigentes parecem ter como máxima a preservação do equilíbrio interno da organização. Ou a perpetuação de um intrincado esquema de sanções e recompensas (mais simbólicas do que materiais) que decorrem do exercício do poder num partido com uma longa história e sólidos rituais. O crescimento eleitoral poderia gerar tensões e pôr em causa esse equilíbrio. Já o BE parece não ter sabido gerir o sucesso eleitoral das legislativas. Nos últimos tempos, tem emergido uma força titubeante, desorientada. Por um momento, pareceu cair no logro de querer mimetizar o PC. O tiro foi corrigido nas duas semanas de campanha, mas pode não chegar para um bom resultado.

E, no entanto, estes partidos têm razão. Têm razão quando nos dizem não ser possível pagar a dívida nas condições impostas pelo triunvirato do FMI, BCE e Comissão Europeia. Têm razão quando apontam o efeito do custo da energia na (baixa) produtividade do trabalho. Têm razão na tributação das mais-valias geradas na especulação urbanista (bem, esta é uma questão mais cara ao Bloco). Entre outras coisas mais.

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